DN - (3de3 Dias) - "O Rabejador de Ouro é dos Forcados de Vila Franca"

Segunda- Feira, 23 de Fevereiro de 2015
O rabejador de ouro é dos forcados de Vila Franca
Fotografia © Jorge Amaral/Globalimagens
Os forcados entram em último na arena, mas são os primeiros para muitos aficionados. Os que verdadeiramente lidam com o toiro mano a mano.
Brincam com ele, chamam-lhe o "Ronaldo dos forcados". É o rabejador de ouro no mundo da tauromaquia e tricampeão, eleito desde que o prémio existe. Não recebe ouro nem milhões, o prémio foi um prato e uma bilha de barro (o de 2014 é entregue em abril). Tem o reconhecimento dos colegas - os forcados são amadores -, tal como o grupo a que pertence: os amadores de Vila Franca de Xira, também eles escolhidos três anos seguidos.

"Votam os forcados e isso é motivo de orgulho", sublinha Carlos Silva, o premiado (na foto com a mulher e o filho). É "profissão que ninguém" quer, mas está habituado. No futebol, era guarda-redes.


Começou tarde, aos 25 anos. Em geral, "os forcados entram para a equipa principal aos 15/16 anos e deixam por volta dos 30", explica Ricardo Castelo, o cabo, quem dirige e decide os lugares em cada pega do Grupo de Forcados Amadores (GFA) de Vila Franca de Xira.

Carlos Silva já lidava com vacas e toiros, o pai é criador, e aceitou o conselho de um amigo: ser forcado. "Tinha facilidade em pegar de caras as vacas", mas faltava-lhe o estilo. Além de que o lugar de rabejador estava ocupado. "Andei um ano a passear a mala." Literalmente.

Gastava dinheiro, as despesas não são pagas, e não pisava a arena. Nem tinha direito ao bilhete para um acompanhante, por não ter ordem para se fardar para as corridas. Carlos vê esse período como uma espécie de iniciação, "para ver se desistia". Conclui: "O grupo tem muitos anos e não é fácil entrar."

Foi numa corrida com seis toiros que a página virou. O cabo de então dividiu a equipa de Vila Franca de Xira em dois grupos e abriu-se o lugar de rabejador. Brilhou. No espetáculo seguinte, recebeu com espanto a ordem para se fardar e nunca mais a deixou. "Não me tinha fardado porque era uma corrida de que todos falavam por ser com toiros Miura [ganadaria espanhola, lenda da tauromaquia]. Fiquei todo contente."

Carlos entra em ação quando o forcado se agarra à cabeça do toiro e logo depois do primeiro ajuda. É o último a sair. E não é a força que manda, mas a técnica. "Um bom rabejador tem de ser rápido na entrada. Durante a lide, tem de saber ler o toiro para perceber se vem rápido ou lento. Tem de agarrar o rabo do toiro ao primeiro ajuda e mudar-lhe a direção no sentido dos ajudas. Tem de se ter força mas também jeito para o conseguir desequilibrar. Consegue-se retirar um touro do sítio pelo equilíbrio."

Catorze anos de corridas que Carla Silva, a mulher, acompanha sempre que pode. Agora menos, depois do nascimento do Duarte, o filho de 6 anos, que já mostra jeito para as lides. A mãe diz-lhe para estudar. E, quanto ao marido, ironiza: "Enquanto o rabo não tiver cornos, tudo bem."

O GFA de Vila Franca de Xira (na foto, alguns membros na tertúlia, onde se vê o canal por cabo Tôros), fundado em 1932, está no primeiro escalão (mais de 15 corridas por ano) e tem 30 homens, a maioria vindos da escola de formação. Amadores, recebem dinheiro para as despesas, mas nem sempre dá. "Correm" por gosto, pela experiência e pelo convívio.

É Ricardo Castelo, 31 anos, engenheiro agrónomo, que escolhe os oito homens por pega (cara, dois primeiros ajudas, dois segundos e dois terceiros e o rabejador). "E todos querem ir para a cabeça do toiro", assegura. Medo? "A adrenalina do momento supera o medo."


Texto: DN - Diário de Noticias Por: Céu Neves

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